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CAEd realiza estudo pioneiro sobre impactos da pandemia na educação do estado de São Paulo

Publicado em maio de 2021

O Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, realizou uma das primeiras e mais importantes pesquisas da atualidade sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na educação básica da rede pública. O estudo consistiu em uma avaliação aplicada a estudantes ingressos, em 2021, no 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio da rede estadual de São Paulo.


Para cada um desses anos escolares, foram avaliados, em Língua Portuguesa e Matemática, aproximadamente 7 mil estudantes de uma amostra representativa de todos os extratos sociais e regiões do estado de São Paulo. Aplicados presencialmente e em formato impresso, os testes foram elaborados de acordo com o currículo estadual e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com itens calibrados nas escalas de proficiência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).


O objetivo é comparar a proficiência desses estudantes, que iniciam agora o 5º e o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º do Médio, com a proficiência daqueles que concluíram essas mesmas etapas em de 2019. Tal comparação permite que a rede estadual de São Paulo responda a uma pergunta fundamental: quanto, em média, esses estudantes precisam avançar neste ano letivo para alcançar o mesmo resultado de seus colegas de dois anos atrás, de modo a não haver queda na aprendizagem?


O quadro a seguir apresenta os resultados da pesquisa em comparação com o SAEB de 2019 e 2017, para Língua Portuguesa e Matemática. A margem de erro da pesquisa amostral é de 1,2 pontos para mais ou para menos.


Desafios para os anos iniciais do Ensino Fundamental

Em relação aos resultados alcançados em 2019, as maiores discrepâncias são verificadas no 5º ano do Ensino Fundamental: 29,6 pontos a menos na escala de proficiência em Língua Portuguesa; e 46,3 a menos em Matemática. 

Os estudantes que participaram dessa pesquisa amostral, ingressos no 5º ano, concluíam o 3º ano do Ensino Fundamental em 2019. Portanto, se observarmos os resultados alcançados por eles no Sistema Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) de 2019, que também são produzidos com base nas escalas do SAEB, é possível compará-los com o desempenho alcançado na pesquisa amostral e verificar com mais clareza como se deu o impacto do período de interrupção das atividades escolares presenciais em 2020. 

Sendo assim, no final do 3º ano do Ensino Fundamental, os estudantes do estado de São Paulo alcançaram, no SARESP de 2019, 187,2 pontos na escala de proficiência para Língua Portuguesa, e 212 para Matemática. A pesquisa amostral estimou que esses mesmos estudantes, agora no início do 5º ano, possuem um desempenho médio de 193,8 em Língua Portuguesa e 196,4 em Matemática.

Conclui-se, portanto, que o estudante atual do 5º ano da rede estadual de São Paulo, em 2021, tem um desempenho inferior ao que tinha um ano atrás em Matemática, ao concluir o 3º ano do Ensino Fundamental, enquanto em Língua Portuguesa a aprendizagem se manteve apenas um pouco maior. Isso quer dizer que, em média, em 2020, essas crianças praticamente não desenvolveram novas competências e habilidades nos dois componentes curriculares.


Nos anos finais, resultados mais próximos do objetivo

Para o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º do Médio, as diferenças são menores, o que sugere que o impacto da mudança para o ensino remoto foi maior na aprendizagem dos estudantes mais novos. O cenário, porém, continua desafiador.

Em Matemática, o desempenho alcançado no 3º ano do Ensino Médio na pesquisa amostral de 2021 foi de 255,3 pontos na escala de proficiência. Resultado inferior aos 261,7 de proficiência obtidos pelos estudantes ao final do 9º ano do Ensino Fundamental no SAEB de 2019. Esses números revelam que o jovem que hoje inicia o último ano de sua trajetória escolar desenvolveu, em média, menos competências e habilidades de Matemática do que aquele que concluía o 9º ano há dois anos. Em Língua Portuguesa, o estudante atual do 3º ano do Ensino Médio encontra-se um pouco à frente, com aproximadamente 7 pontos a mais do que o jovem que dois anos atrás terminava o 9º ano do Ensino Fundamental.

Dados que demonstram, assim como os do 5º ano, a tendência de que o componente curricular da Matemática tenha sido mais impactado durante o período de pandemia e isolamento social. 


Apoio ao desenvolvimento de políticas públicas

Desde o início da pandemia, a rede estadual de São Paulo não mediu esforços na implementação de estratégias importantes para a garantia do direito à aprendizagem, de forma que a educação pública do estado tivesse menos prejuízos por conta das mudanças trazidas pelo ensino não presencial.

Embora impactos tenham sido mitigados, a pesquisa amostral revela que educação básica foi bastante afetada. Por outro lado, as informações obtidas por meio da pesquisa do CAEd podem, agora, orientar a Secretaria no desenvolvimento e na implementação de políticas e estratégias eficazes que visam à retomada da aprendizagem no estado de São Paulo, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, cujos resultados indicam maior queda na aprendizagem. Ações com foco na alfabetização das crianças devem, portanto, receber atenção especial em 2021 e nos próximos anos letivos.

A expectativa é de que esse período de recuperação se estenda até o final de 2022, no qual estima-se que os níveis anteriores de aprendizagem possam ser retomados e a rede estadual poderá seguir com o progresso que vinha alcançando nos anos que precederam a pandemia. 

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